sábado, 10 de março de 2007

Requintes

Na casa onde cresci, sempre que havia transmissão de um jogo de futebol, o sexo maculino que constituía a maioria predominante era imbatível. Não havia documentário interessante, filme fantástico ou debate acesso que me permitisse a mim e à minha progenitora mudar de canal.

E,como o que não tem remédio, remediado está, lá aprendemos as duas a gostar de ver uma boa jogatina e, sobretudo, a ususfruir o sofrimento antagónico e hilariante, que resultava de um irmão adepto fervoroso da sua águia e o outro do seu leão.

Àparte os jogos, o mundo futebolístíco é uma fonte inesgotável de preciosidades linguísticas. Ninguém se esquece de pérolas como os prognósticos deixados para o final do jogo, as vidas que dão voltas de 360º (voltando assim ao mesmo sítio) ou a do outro, pobre coitado, que à beira-do-abismo resolve dar um passo em frente...(paz à sua alma, que não deve ter ficado em bom estado, o desgraçado do rapaz).

Não me esqueço do meu professor de português um dia nos questionar sobre o significado do adjectivo "fulgurante" e da resposta pronta de um colega de turma, burro que nem um penedo, e que ali viveu o seu momento de glória: "Um golo fulgurante, stôr, é tipo do género um golo bestial!" O prof. lá anuiu a custo, tendo em conta os seus trejeitos de "borboleta" e a sua abomição pelo universo futebolístico.

A linguagem futebolística tem laivos de requinte. Se nos entretivermos a apreciar os relatos e, sobretudo, os comentários antes e depois dos jogos, vão por mim, rebolamos a rir. Sem contar com os pontapés (fulgurantes!) na gramática, há expressões recorrentes dignas de registo. A última que retive foi: "em certos e determinados jogos..." - mas quais, senhores?!

Enfim... A verdade é que uma qualidade incontestável aquelas alminhas têm... Já repararam como conseguem "botar faladura" e não dizer nadinha?!

Impressionante!

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